os pretendentes ao trono
No Século XIII, dois pretendentes ao trono entram em disputa pelo trono da Noruega.
Gênero: Teatro, Tragédia, Peça Histórica
Ano: 1864
Autor: Henrik Ibsen
Editora: Arquitrama
Pretendentes ao Trono (Kongs-Emnerne), de Henrik Ibsen, é uma imersão nas rivalidades e ambições da Noruega medieval, onde reis e duques disputam não apenas a coroa, mas a própria essência do reino. Na trama, o jovem rei Haakon e o enigmático duque Skule se veem divididos entre lealdade, fé e a sedução do poder absoluto, cada um carregando dúvidas e convicções que colocam sua liderança à prova.
A peça se aprofunda em uma batalha psicológica e espiritual, onde o destino dos pretendentes se funde com o da Noruega. Ibsen constrói um duelo intenso e poético, repleto de dilemas morais, em que cada decisão pode levar à glória ou à ruína. Alianças frágeis, honra testada, e o desejo de uma marca eterna conduzem os personagens em uma jornada arrebatadora.
Com cenas meticulosamente planejadas e diálogos poderosos, Pretendentes ao Trono revela, com a inigualável habilidade dramatúrgica de Ibsen, uma reflexão sobre poder e autoconhecimento. Uma obra essencial para os que apreciam o drama histórico e as intricadas facetas da ambição humana.
trecho
BISPO NICOLAU
— Você nunca viu um quadro antigo na Igreja de Cristo em Nídaros? Ele mostra o Dilúvio subindo e subindo sobre todas as colinas, de modo que resta apenas um único pico acima das águas. Nele, uma família inteira sobe, pai, mãe, filho, esposa do filho e crianças; e o filho empurra o pai de volta ao dilúvio para conseguir melhor apoio; e ele empurrará sua mãe, sua esposa e todas as suas crianças, para alcançar o topo sozinho; pois lá em cima ele vê uma pequena porção de terra onde poderá manter-se vivo por uma hora. Isso, conde, essa é a saga da sabedoria, e a saga de todo homem sábio.
CONDE SKULE
— Mas o direito!
BISPO NICOLAU
— O filho tinha o direito. Ele tinha força e o desejo pela vida; satisfaça seus desejos e use sua força: isso é o direito que todo homem tem!
CONDE SKULE
— Sim, para aquilo que é bom.
BISPO NICOLAU
— Palavras, palavras! Não há nem bom nem mau, nem alto nem baixo. Você precisa esquecer essas palavras, senão nunca dará o último passo, nunca saltará o abismo. (Em voz baixa e insistente.) — Você não deve odiar um partido ou uma causa porque esse partido ou causa deseja isto ou aquilo; mas deve odiar cada homem de um partido porque ele está contra você, e deve odiar todos que se reúnem em torno de uma causa, porque a causa colide com sua vontade. O que for útil para você é bom, o que colocar pedras no seu caminho é mau.
CONDE SKULE (olha pensativo à frente)
— Quanto me custou esse trono, ao qual ainda não cheguei! E quanto custou a Haakon, que agora se senta nele com tanta segurança! Eu era jovem e renunciei ao meu doce amor secreto para me aliar a uma casa poderosa. Roguei aos santos para que me abençoassem com um filho... tive apenas filhas.
BISPO NICOLAU
— Haakon terá filhos, conde, marque isso!
CONDE SKULE (cruzando até a janela à direita)
— Sim, tudo acontece como Haakon deseja.
BISPO NICOLAU
— E você, vai se permitir ser exilado da felicidade durante toda a sua vida? Você está cego? Não vê que é uma força maior que osBirkebeiners que está ao lado de Haakon, favorecendo toda sua obra? Ele tem ajuda do alto, daqueles que estão contra você, daqueles que têm sido seus inimigos desde o seu nascimento! Acorde, homem; endireite suas costas! Para que você tem uma alma poderosa? Pense que o primeiro grande feito que o mundo conhece foi realizado por alguém que se levantou contra um grande reino!
CONDE SKULE
— Quem?
BISPO NICOLAU
— O anjo que se rebelou contra a luz!
CONDE SKULE
— E foi lançado no abismo sem fim.
BISPO NICOLAU (selvagem)
— E ali fundou um reino, e fez de si mesmo um rei, um rei poderoso; mais poderoso que qualquer um dos dez mil condes lá em cima! (Desaba em um banco ao lado da mesa.)
CONDE SKULE (olha fixamente para ele)
— Bispo Nicolau, você é algo mais ou algo menos que um homem?
BISPO NICOLAU (sorri)
— Estou no estado de inocência: não conheço o bem nem o mal.